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sábado, 19 de maio de 2007

O que eu quero é ser diferente!

Eu tenho grande admiração pelos sábados e domingos. Esses são os dias em que tenho a grata satisfação de encontrar os velhos amigos, aqueles que mesmo desaparecidos por meses ou anos, continuam fazendo a diferença e nunca são esquecidos.

Na semana passada, mais precisamente no sábado, conversávamos, eu e um desses velhos companheiros de infância, sobre a evolução da sociedade no Brasil e no mundo, numa conversa edificante, sem lamentações, ou como se dizia a algumas décadas atrás, "um papo-cabeça".

Nossas conclusões a respeito do tema convergiram num ponto: evoluímos muito do ponto de vista tecnológico e científico, mas no que diz respeito às questões éticas e morais, a coisa muda de figura. E no meio desse papo surgiu um comentário dele sobre uma entrevista que havia assistido num programa de tv, onde um rapaz de uns 20 anos falava em suas atitudes perante a vida. Esse rapaz disse em certo momento algo mais ou menos assim: "(...) eu quero é ser diferente. Vejo que o normal hoje em dia é ser desonesto, corrupto, ladrão, infiel etc. Sou jovem, e como jovem tem atitude revolucionária e não aceita o que é imposto, eu quero é ser diferente disso que rola por aí. Quero ter moral e ser ético. Quero ser honesto, cumpridor dos meus deveres, quando casar quero ser fiel a minha esposa, quero trabalhar com dignidade, quero ser um exemplo de cidadão para meus filhos mesmo que não tenha grana. EU QUERO É SER DIFERENTE!!"

Analisando o processo evolutivo de nossa sociedade é fácil constatar que os valores mudaram para muitos. No entanto, pelos argumentos apresentados, esse rapaz da entrevista não está incluído na lista de convidados da festa do mundo comemorada todos os dias pelos que sucumbiram àquele "jeitinho de se dar bem" e vendem a alma ao diabo, priorizando apenas o "ter" e se esquecendo do "ser". Ou seja, ainda há (e não são poucos) quem se preocupe com questões de ordem ética e moral.

Aliás, aqui merece ser feita uma consideração sobre ética e moral: elas andam juntas, mas conceitualmente são duas coisas diferentes. Segundo o psicólogo Caio Feijó, autor do livro Pais Competentes, Filhos Brilhantes, costume em grego é “éthos” (ética) e em latim significa “mores” (moral), e talvez por esse motivo essas duas palavras causem confusão. Ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. De acordo com Kant, “moral é aquilo que precisa ser feito, independentemente das vantagens ou prejuízos que possa trazer”. A capacidade ética tem por objetivo a reflexão crítica do ato moral, ou seja, sobre o que é (ou pode ser) errado. Assim a ética não é moral. Moral é o objeto de estudo da ética, diz respeito aos costumes, valores e normas de conduta de cada sociedade.

E qual a razão para que esse rapaz se preocupe com ética e moral, e queira ser diferente do padrão "normal" de atitudes perante a vida? Será que algo está errado? Isso que ele pensa não deveria ser o “normal”? Arrisco dar uma das possíveis respostas para esse contra-senso: faltam famílias de verdade no mundo. A função essencial da família não termina na atividade da procriação ou adoção (em alguns casos), mas se estende à educação e a modelagem do caráter, repercutindo na orientação ética e moral do indivíduo. A família bem alicerçada é um personagem indispensável para que ocorram mudanças de pensamento em nosso mundo. O amor familiar produz pessoas felizes, saudáveis, conscientes de seus limites, pacíficas, que valorizam a vida, o respeito mútuo.

Vendo esse quadro atual no qual os valores de nossa sociedade são tão questionáveis, onde os laços de amizades vão dando lugar ao individualismo, a instituição "família" anda tão desacreditada, e ouvimos jovens dizerem que ser diferente é ter uma vida honrada, fico me perguntado se não há alguma coisa errada.

Aproveitando a oportunidade, faço um convite ao leitor para refletir sobre uma propaganda que vem sendo exibida na tv com o slogan "Caráter: passe adiante". Por que será que esse tipo de apelo está sendo feito?

E voltando ao jovem e sua atitude, que tal ser diferente e ajudá-lo a mudar o mundo? Pode parecer utopia, mas acredito que a reforma íntima de cada um vai fazer a diferença um dia. E como diz John Lennon na música Imagine:

"Você pode dizer que sou um sonhador, mas eu não sou o único. Espero que um dia você se junte a nós, e o mundo viverá como um só."

Até a próxima!

2 Comentários:

  • Caro Alfredo Manhães! Gostei por demais do seu texto por trazer para o leitor coisas bem atuais e autêntica. Perdoe-me a minha pouca expressão. Mas, gostei demais de suas verdades... Parabéns! Continue... Gilson Pontes (Colunista do REBATE)
    Passa lá e vê meu trabalho. Tô esperando. Até

    Por Blogger Gilson Pontes, às 29 de maio de 2007 às 20:52  

  • hum....Agora entendo melhor o que o senhor queria dizer na sala de aula, quando conversavamos sobre o avanço da sociedade e da oportunidade de mudança.Embora assim como como o jvem da entrevista eu tambem sou um revolucionario e ainda acredito na mudança das pessoas!!
    Vlw mestre ótimo texto!!!

    Por Blogger Unknown, às 30 de maio de 2010 às 09:04  

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