.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Coração e a Pluma

A história do Egito e de seu povo é fascinante e apaixonante sob vários aspectos. Desde que o pesquisador francês François Champollion decifrou a escrita hieroglífica na famosa Pedra da Roseta (século XIX), inúmeras riquezas afloram do grande manancial de sabedoria desse povo, influenciando na ciência, cultura, religiosidade e outras áreas. É bom lembrar que a Egiptologia foi criada na França pelo próprio Champollion no Collège de France.

Embora não seja historiador, gosto muito do tema e em algumas pesquisas sobre a mitologia egípcia e sua relação com a religiosidade dessa civilização da antiguidade, encontrei algo curioso sobre um de seus deuses, Osíris.

O nome Osíris é um termo grego, que teria vindo de nomes como Asar, Use, Usir, Usire, Unnefer ("o que é bom"), mas não se sabe ao certo o seu real significado. Osíris é reconhecido como o deus da terra, da agricultura e da ressurreição. Sua representação mais comum apresenta a pele verde, associada a vegetação, e a túnica branca.

Segundo o Livro dos Mortos, o indivíduo recém chegado ao mundo espiritual passava pelo Aukert (mundo subterrâneo) e depois seguia em direção ao Amenti, morada de Osíris, onde seria julgado.

O julgamento de Osíris consistia em comparar o peso do coração do morto com uma pluma de avestruz, utilizando uma balança de pratos, cerimônia da qual participavam Anúbis (representado com a cabeça de chacal), o deus da morte, Hórus (representado com a cabeça de falcão), deus dos céus e da realeza, e mais alguns deuses. Assim como os pesos em cada prato da balança podem se equilibrar ou fazer com que ela penda para um dos lados, se o coração se equilibra com o peso da pluma, significa que o indivíduo foi uma pessoa de coração puro e bondoso, e não cometeu erros que o afastariam da caminhada para a vida eterna no Campo da Paz, e a felicidade.

Por outro lado, se o coração for mais pesado que a pluma, significa que essa pessoa não foi respeitosa, honesta e confiável, e assim não poderia seguir o caminho da eternidade. Para Osíris, cujo julgamento era infalível, quanto mais puro o coração, mais justo havia sido o indivíduo. Quanto mais impuro, mais distante da verdadeira essência dos propósitos da vida.

Embora essa passagem faça parte da mitologia egípcia, é possível aplicá-la em nossas vidas. Quantos de nós carregamos o fardo pesado de um coração endurecido e intransigente, que não perdoa, não se amolece diante das necessidades de outros, distante dos caminhos que levariam ao ideal do "homem integral", aquele que está em ressonância com a energia criadora do cosmo. Quantos julgam seus semelhantes, sem que tenham a mínima condição ética e moral para exercer tal tarefa.

Hoje meu coração estava "um chumbo" de tão pesado, e pensando nessas coisas procurei fazer a lição de casa. Escrevi para alguém que não vejo há dois anos, e é uma pessoa da qual me afastei por ter deixado meu orgulho ser muito mais forte que a razão. Bem, fiz a minha parte pedindo desculpas...quem sabe até eu seja perdoado?

Que tal ir para a cama com o coração leve? Amando mais, perdoando mais, compreendendo mais, ouvindo mais, falando menos, enfim, repensando atitudes e modificando o padrão mental. Não é fácil mas é possível, e vale a pena tentar. Essa é a dica milenar, porém muito atual, da mitologia egípcia e do sábio deus Osíris.

Até a próxima!