Carta ao André
Caro André,
Precisei de um tempo para escrever esta carta e espero que você a receba.
Há um mês fui ao Memorial da Igualdade em Macaé para lhe prestar uma última homenagem, pela amizade de longa data e mais recentemente pelos ideais e idéias que compartilhamos. Infelizmente você partiu aos 43 anos para outras paragens e nossas conversas foram interrompidas temporariamente. Naquele dia 16 o clima era de muita dor e tristeza, ainda mais pelas circunstâncias trágicas nas quais você deixou essa existência.
Ao longo do velório, enquanto sua família recebia o amparo de parentes e amigos, observei que há anos não via juntos tantos contemporâneos e conterrâneos. Naquele momento percebi que a face triste de muitos ali presentes revelava feições bem conhecidas. Eram pessoas que fizeram parte de uma geração de macaenses que até a juventude não vivenciou a atmosfera pesada que hoje paira sobre a cidade. Eram outros tempos, mais amenos e sem as atrocidades dos dias atuais. Víamos mais sorrisos que lágrimas.
Enquanto a urna aos poucos ia deixando a capela, fiquei divagando e lembrando um pouco da adolescência de quase todos nós. A Rua Dr. Luis Bellegard era o “caminho oficial” das tardes e noites de sexta e sábado para se chegar até à Imbetiba, ponto de encontro dessa geração. Passávamos por ali tranquilamente, qualquer que fosse a hora. Aliás, você morava nessa rua com seus pais, Seu Argentino e Dona Carminha, e seus irmãos. Primeiro conheci Mônica, depois Carlos e então você e Ricardo, um garotinho naquele tempo (rs). E quem diria que seu amigo Maurício Babinha se tornaria meu cunhado? Mundo pequeno!
Quem viveu essa época vai lembrar das noites de Macaé e das opções para dançar. E o que havia? Discoteca Starship, no Tênis Clube, Discoteca do Redondo, Cavern Club e Tucano, fora os bailes com equipes de som no Fluminense e Ypiranga. Brigas e confusões poderiam acontecer, mas eram resolvidas de maneira menos agressiva que atualmente.
Durante o dia o destaque ia para a Praia dos Cavaleiros e do Pecado. As ondas estavam lá nos esperando, seja com prancha ou pés-de-pato. As ressacas eram de dar medo e só os mais ousados (ou malucos!) entravam na água! E as meninas na areia, enfeitavam a praia com seus cabelos e bronzeados.
As segundas-feiras tinham como endereço certo os cinemas Cine Clube e Taboada, com direito à pipoca e lanterninha. Seu João de Deus, que esteja em bom lugar, depois de aturar tantos anos de bagunças dessa rapaziada. Não sei você lembra, mas alguns anos depois surgiu a Casa de Chocolate, onde as partidas de Detetive não tinham hora para acabar, a não ser quando Seu Vasco mandava a turma para casa.
Naqueles tempos a gente se reunia na casa de amigos para ouvir música, fosse com um violão ou cada qual levando seus discos de vinil. A trilha sonora ia de mpb e rock ao funk, de acordo com a casa onde íamos: Led Zeppelin, Chico Buarque, Funkadelic, Gilberto Gil, Queen, Fagner, The Police, Dire Straits, Zé Ramalho, Nazareth etc. Nesses encontros sempre havia alguém com uma fitinha cassete para guardar as preferidas. E na sua casa era impossível deixar os Beatles de fora das audições, haja vista a Mônica ser beatlemaníaca de carteirinha. Foi lá que descobri uma pérola desse grupo que resolvi adotar como um tema pessoal: Strawberry Fields Forever.
O tempo passou, os macaenses ficaram um pouco mais velhos e cada qual optou por um caminho. Alguns saíram da cidade para estudar mas depois voltaram; outros nunca saíram daqui e houve aqueles que foram sem voltar. Vieram os casamentos, filhos, separações etc. Você e Daniele resolveram trazer Clarinha como irmã caçula das meninas. Quanta alegria!
Ao longo do velório, enquanto sua família recebia o amparo de parentes e amigos, observei que há anos não via juntos tantos contemporâneos e conterrâneos. Naquele momento percebi que a face triste de muitos ali presentes revelava feições bem conhecidas. Eram pessoas que fizeram parte de uma geração de macaenses que até a juventude não vivenciou a atmosfera pesada que hoje paira sobre a cidade. Eram outros tempos, mais amenos e sem as atrocidades dos dias atuais. Víamos mais sorrisos que lágrimas.
Enquanto a urna aos poucos ia deixando a capela, fiquei divagando e lembrando um pouco da adolescência de quase todos nós. A Rua Dr. Luis Bellegard era o “caminho oficial” das tardes e noites de sexta e sábado para se chegar até à Imbetiba, ponto de encontro dessa geração. Passávamos por ali tranquilamente, qualquer que fosse a hora. Aliás, você morava nessa rua com seus pais, Seu Argentino e Dona Carminha, e seus irmãos. Primeiro conheci Mônica, depois Carlos e então você e Ricardo, um garotinho naquele tempo (rs). E quem diria que seu amigo Maurício Babinha se tornaria meu cunhado? Mundo pequeno!
Quem viveu essa época vai lembrar das noites de Macaé e das opções para dançar. E o que havia? Discoteca Starship, no Tênis Clube, Discoteca do Redondo, Cavern Club e Tucano, fora os bailes com equipes de som no Fluminense e Ypiranga. Brigas e confusões poderiam acontecer, mas eram resolvidas de maneira menos agressiva que atualmente.
Durante o dia o destaque ia para a Praia dos Cavaleiros e do Pecado. As ondas estavam lá nos esperando, seja com prancha ou pés-de-pato. As ressacas eram de dar medo e só os mais ousados (ou malucos!) entravam na água! E as meninas na areia, enfeitavam a praia com seus cabelos e bronzeados.
As segundas-feiras tinham como endereço certo os cinemas Cine Clube e Taboada, com direito à pipoca e lanterninha. Seu João de Deus, que esteja em bom lugar, depois de aturar tantos anos de bagunças dessa rapaziada. Não sei você lembra, mas alguns anos depois surgiu a Casa de Chocolate, onde as partidas de Detetive não tinham hora para acabar, a não ser quando Seu Vasco mandava a turma para casa.
Naqueles tempos a gente se reunia na casa de amigos para ouvir música, fosse com um violão ou cada qual levando seus discos de vinil. A trilha sonora ia de mpb e rock ao funk, de acordo com a casa onde íamos: Led Zeppelin, Chico Buarque, Funkadelic, Gilberto Gil, Queen, Fagner, The Police, Dire Straits, Zé Ramalho, Nazareth etc. Nesses encontros sempre havia alguém com uma fitinha cassete para guardar as preferidas. E na sua casa era impossível deixar os Beatles de fora das audições, haja vista a Mônica ser beatlemaníaca de carteirinha. Foi lá que descobri uma pérola desse grupo que resolvi adotar como um tema pessoal: Strawberry Fields Forever.
O tempo passou, os macaenses ficaram um pouco mais velhos e cada qual optou por um caminho. Alguns saíram da cidade para estudar mas depois voltaram; outros nunca saíram daqui e houve aqueles que foram sem voltar. Vieram os casamentos, filhos, separações etc. Você e Daniele resolveram trazer Clarinha como irmã caçula das meninas. Quanta alegria!
As lembranças vinham fluindo em minha mente mas então, de volta ao presente! Não sei quantos abracei naquela tarde, num misto de saudade e melancolia. Cada um de nós se olhava parecendo dizer “Não acredito nisso!”, “Não é possível!”.
Ao fim da tarde, com orações sinceras e aplausos, nos despedimos. Vejo sua esposa, filhas, irmãos, cunhadas, primos. Não tenho palavras. Abraços e lágrimas falam por si. As saudades ainda vão machucar familiares e amigos, e só o tempo e a confiança em Deus vão segurar as pontas.
Gostaria muito que todos nós que estivemos juntos nesse dia também pudéssemos estar reunidos em algum momento para celebrar a vida e a família. Vale lembrar que fomos abençoados porque tivemos a oportunidade de usufruir momentos singelos de uma cidade terna, serena e pacata, sem a perversidade dos dias atuais. São momentos que ficarão eternizados em nossos corações.
André, agradeço a oportunidade de ter conhecido você e compartilhado um pouco do convívio de sua família e de amigos. Que Deus o ampare na nova morada e até uma próxima vez. Precisamos continuar aquela conversa, ok?
Abraços,
Alfredo.
(Macaé nos anos 80)
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