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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Crônica de uma morte anunciada

As redes de televisão noticiam o episódio dramático das inundações, não só no Brasil mas também em outros países, como tem acontecido recentemente na Austrália. Fala-se em tragédia, mortes etc por conta das chuvas fortes e logicamente devemos estar sensíveis a esses problemas, já que são nossos semelhantes que sofrem pelo episódio. Aliás, sensíveis e atentos...

De acordo com a edição de 1996 do World Almanac, publicação da Infobase Publishing, New York, o século XIX teve, registrados em todo o mundo, 938 mil óbitos devido a três grandes inundações. Já no século XX os números foram bem maiores, com 93 grandes inundações em nível mundial, conforme mostrado no gráfico, e aproximadamente 4 milhões de óbitos.

Um relatório do IBGE de 2000 cita seis fatores agravantes para o caso de inundações ou enchentes no Brasil: adensamento populacional, dimensionamento inadequado de projetos, obras inadequadas, lençol freático alto, interferência física no sistema de drenagem e obstrução de bueiros, bocas de lobo etc. O mapa a seguir mostra os municípios brasileiros afetados por inundações entre 1998 e 2000.

O que me causa mais tristeza que as consequências das inundações é ver a atitude dos pseudo-governos pelo Brasil afora, que continuam deixando o planejamento urbano de lado e permitem construções em áreas de risco, como é o caso do Bairro Caleme em Teresópolis, que foi densamente ocupado nos últimos anos a partir de loteamentos, muitos deles legalizados.

Áreas destruídas pela chuva em Teresópolis.
Foto: Antonio Lacerda/EFE

Lembro que muito antes da época das chuvas fortes terem alagado diversas cidades no Sul, alguns especialistas da UFSC haviam realizado um estudo e alertado o governo estadual sobre os riscos da ocupação de diversas áreas próximas à cabeceira e margem de rios, encostas e outras áreas com potencial risco de deslizamento e/ou inundação, sugerindo também a necessidade de obras que minimizassem essas condições. Os alertas não foram levados em consideração e o preço foi, como em outras situações, morte e destruição.

As chuvas são fenômenos naturais cujo comportamento vem sendo influenciado negativamente pelo homem. Apesar dessa situação ruim é perfeitamente possível mapear uma cidade, utilizando tecnologias que se tornam cada vez mais acessíveis às prefeituras, e num esforço coordenado identificar as possibilidades de problemas advindos da urbanização e da interferência humana, que na maioria das vezes é feita de forma desordenada e sem nenhum planejamento prévio. A partir desses dados os gestores públicos podem planejar ações que venham a reduzir esses impactos ou, dependendo do caso, extinguir os riscos.

Moradores e Defesa Civil trabalham no resgate de pessoas em Teresópolis.
Foto: Vanderlei Almeida/AFP


As notícias sobre as chuvas recentes parecem, em síntese, a crônica de uma morte anunciada. Existem soluções técnicas para boa parte desses problemas, que podem ser postas em prática por intermédio de políticas públicas sérias, mas isso sempre esbarra em...questões políticas!? Até quando será assim?

Ironias à parte, vejam o detalhe na parte superior esquerda da foto abaixo...precisa dizer mais o quê?

Até a próxima.

http://veja.abril.com.br/blog/veja-acompanha/files/2011/01/Travessia-na-Estrada-do-Triunfo-Caleme2.jpg
Homem usa pinguela improvisada para atravessar o que já foi uma rua no bairro Caleme, em Teresópolis

Foto de Sylvio Maffei/Teresópolis Jornal


1 Comentários:

  • Alfred, bom dia.

    Uma das maneiras de combater as enchentes é recuperar avegetação das cidades.
    Em 2012, Macaé fará 200 anos de emancipação político-administrativa. Fiz uma sugestão à Prefeitura Municipal de Macaé de plantar 200 mil árvores até julho/2012, como forma de marcar essa efeméride. Como sempre acontece nessa parte da galáxia, a opinião do taxpayer não é levada em conta no processo de (des)planejamento da cidade. Abraço. RMotta

    Por Blogger Unknown, às 13 de janeiro de 2011 às 02:08  

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