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domingo, 14 de junho de 2009

Saudade dos campinhos e das brincadeiras de rua

Hoje andava de carro e observei alguns meninos e meninas por volta dos 9 anos, brincando despreocupadamente. Os meninos corriam atrás de uma bola de futebol e as meninas brincavam de bambolê, todos no meio da rua. Como tenho o costume de andar devagar, parei e fiz sinal para que eles me permitissem passar, o que transcorreu sem problemas.

Vendo essa cena, lembrei-me de meus tempos de criança na Macaé dos anos 70, quando tínhamos à disposição vários "campinhos", apelido carinhoso dado aos terrenos baldios que serviam de espaço para muitas brincadeiras e é claro, para as peladas de fim de semana.

Os campinhos estavam espalhados pela cidade, e cada bairro tinha pelo menos um. No Centro havia o Ernestão, perto da Fábrica de Móveis Sigla (hoje Supermercado ABC), o campo do Luiz Reid (sem o muro naquela época), o campinho atrás do Matias Neto, o da Destilaria (hoje a FIAT) onde todo domingo jogavam "times de camisa" e vários outros. Ao lado de minha casa, no Visconde de Araújo, havia um que era palco de peladas entre nós ou de nosso time contra o das outras ruas vizinhas. Seu apelido era Beira-Morobá, e um dia espero explicar o porquê do nome.

Os emocionantes jogos no campinho só terminavam quando escurecia o suficiente para não enxergarmos a bola e não haver mais condição de brincar. A vontade de continuar jogando era tanta que saíamos daquela escuridão e íamos para o meio da rua. Fracamente iluminada pelas luzes incandescentes dos antigos postes de madeira, a rua de terra batida se tornava um prolongamento do campo e das sensações que só quem vivenciou uma autêntica pelada poderia descrever.

Como só havia um carro por ali, que era de Seu Demétrio, o trânsito era mínimo. As sandálias havaianas serviam de trave e tudo recomeçava para os craques mirins e a querida e suja bola dente-de-leite. A festa ia bem até a hora em que se ouvia as mães chamando: "vem pra dentro menino, que amanhã tem aula."

Os campinhos serviam para o pique, pular corda, polícia e ladrão, bola de gude, pião, soltar pipa, para as partidas de queimado e muitas outras brincadeiras. Era o ponto de encontro mais desejado da gurizada, que nem nos dias de chuva era esquecido. Eu gostava de levar uns barquinhos de plástico para brincar no campinho molhado junto com os colegas, e usando algumas ferramentas improvisadas como paus e pedras, ia interligando as poças d'água, construindo canais, talhando diques e docas para os barquinhos. Acho que o gosto pela Engenharia vem de muito longe.

Bem, deixemos os anos 70 e vamos retornar a 2009, em pleno século XXI e cenário de novas tecnologias e costumes.

E agora, em tempos de "Capital Nacional do Petróleo", e também de buracos, alagamentos, inchaço demográfico, bandidagem e outras mazelas urbanas, o que temos a oferecer às nossas crianças? Os campinhos se tornaram prédios residenciais, lava-jatos, estacionamentos etc. As brincadeiras do passado foram esquecidas em grande parte e substituídas por programas de tv de qualidade bastante duvidosa, diga-se de passagem, pelos computadores, videogames e internet. As brincadeiras comuns a todas as crianças ficaram apenas para algumas de comunidades menos favorecidas que ainda soltam pipa ou como atividade de Escolas. Parece que não sobrou muito para nossos filhos...

Hoje, relembrando os tempos românticos da Macaé de minha infância, onde as grandes tecnologias eram o rádio de pilha e a tv preto e branco, vejo que nós todos poderíamos ser chamados de "meninos e meninas de rua", na acepção mais ampla da expressão. E acima de tudo, felizes!!!

Até a próxima.

1 Comentários:

  • Alfredo, você sempre consegue sensibilizar.
    Vai revirando lembranças, trazendo à torna sensações quase esquecidas e imagens impossíveis de esquecer...
    Não pare de escrever, pois você representa a memória viva e revivida da nossa infância.
    Cada descrição sua me remete a uma lembrança da minha infância que foi em outro Bairro, mas na mesma e pacata Macaé dos anos 70.
    Obrigado por ajudar a eternizar esses momentos passados e valorizar os presentes.
    Márcia Vasconcelos.

    Por Blogger Unknown, às 14 de junho de 2009 às 19:20  

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