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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Bolero e a ponte do Botafogo

Essa é uma daquelas histórias de família que merece ser contada. Ela tem por cenário a Macaé dos anos 40, quando a cidade ainda era pequena e pacata e nossos pais eram crianças/adolescentes.

Meu pai (Arão) conta que nessa época tinha uns 14 anos e morava no Visconde de Araújo de frente para a linha do trem, onde hoje fica a Costa do Sol. Ele tinha por hábito pescar em alguns lugares da cidade e nesse dia havia saído com seu pai (meu querido Vovô Pulchério) e um dos irmãos (Tio José) para pescar no Botafogo. Acompanhando o grupo vinha Bolero, um esperto cão viralata que era um grande companheiro deles. Aliás, até hoje não conheço um cão que não seja um grande companheiro de seu dono.

Papai com os cães Faísca e Sudem (1951)

Para se chegar ao pesqueiro desejado o caminho era bem simples: bastava seguir o traçado da linha do trem, que pode ser feito ainda hoje. Para quem não conhece o lugar, basta se dirigir até a antiga Estação Ferroviária, em frente à Praça Santos Dumont, no Miramar, seguir os trilhos em direção à Aroeira passando no sopé do Morro de Santana, atravessar a Rua Dr. Télio Barreto e continuar nos trilhos. A última etapa da caminhada consistia em atravessar a ponte do Botafogo, uma ponte de ferro construída sobre o Rio Macaé com uns 30 metros de comprimento. Por ela passavam os trens de passageiros e de carga que transitavam entre Macaé e a cidade de Campos, no Norte Fluminense. A ponte continua por lá mas os trens...

Quando chegaram à ponte, atravessaram-na como de costume, equilibrando-se nos dormentes e segurando nas ferragens enquanto o rio corria lá embaixo. Chegaram aonde queriam, pescaram à vontade e tomaram o caminho de casa. Tudo ia muito bem quando perceberam que um auto de linha, um pequeno vagão autônomo para transporte do pessoal de manutenção da antiga ferrovia, chegava em sentido contrário.

Como Bolero ainda estava atravessando a ponte, eles gritaram insistentemente para o maquinista. Ele o viu mas ao invés de reduzir a velocidade, nada fez. Suspense...o trem foi com tudo em cima do cão, que num ato desesperado pulou da ponte, de uma altura de uns 10 metros até chegar ao rio. Salvou-se!!! Os pescadores o aguardaram na margem. O susto foi grande mas o companheiro se saiu bem da prova e recebeu o merecido carinho pela proeza.

Meu pai conta que as pescarias no Botafogo continuaram com a companhia de Bolero, mas uma coisa mudou. Quando eles chegavam na cabeceira da ponte para atravessá-la, o cão, sem que ninguém dissesse absolutamente nada, descia até a margem e ia nadando pelo rio até o outro lado, fazendo o mesmo na volta. Como diz o dito popular "seguro morreu de velho, desconfiado está vivo até hoje". E isso vale até para os amigos caninos...

Bolero, além de outros cães como Faísca e Sudem, teve participação em outros momentos pitorescos com os "intrépidos" garotos da família...mas isso fica para uma outra oportunidade.

Até a próxima!

3 Comentários:

  • A recíproca é verdadeira.Interessantíssima a estória do Bolero.Meus parabéns Alfredão.Gostei de mais das estórias, muitos que aqui residem a pouco nem imaginam.Não conhecem a verdadeira Macaé.Só tem olhos para levar o money daqui,e não se preocupam e não querem,saber da nossa querida terra.Continue resgatando esses acontecimentos,dos velhos tempos.

    Por Blogger Alessandro Barreto, às 10 de julho de 2009 às 22:04  

  • Esse é um tempo que não voltará mais.

    Bom texto Alfredo.

    Por Blogger docerachel, às 15 de julho de 2009 às 18:04  

  • Em princípio achei que leria sobre o clube Botafogo (brincadeira!).
    Resgate excelente, eu também atravessei essa ponte, só que era para mergulhar nas águas límpidas desse rio e comer jabuticabas. Parabéns...
    Obs.: Jabuticaba: Fruto arredondado e pequeno, de casca preta, com polpa branca de sabor adocicado, produzido pela jabuticabeira.
    Jovito.

    Por Blogger Unknown, às 18 de dezembro de 2010 às 21:27  

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